Por Liszt Rangel
"Compre baton, compre baton, seu filho merece baton!" Parece uma viagem no tempo que tento fazer, mas quem viveu na década de 80 e não se lembra de comerciais na TV como este? E aquele que dizia: “Não esqueça a minha calói”, ou então, “um beijinho por um danoninho”... tudo nos parecia tão inocente, bem como a rainha dos baixinhos com suas mini-saias e suas paquitas, todas loiras e sensuais, cercadas de crianças e que deixaram, como herança brasileira para as décadas de 90 e para este início de século, os chamados filhos órfãos de pais vivos, que são aqueles garotos e garotas que resolveram levar a sério a brincadeira do estica e puxa e se tornaram muito instruídos com as músicas baianas, cantando: Aê-Aê-Aê-Aê, êêêê, ôôôô, ou ainda: "delícia, delícia..." Sem deixarmos de lembrar que em 2010 a música rebolation foi eleita a melhor num certo programa de domingo à tarde.
O processo vai ainda mais ao passado. Desde a época do Sr. Walt Disney, aquele velhinho com cara de bonzinho que resolveu dar uma reviravolta hollywoodiana nos contos de fada, oriundos em sua maioria de cada país do Velho Continente e que receberam uma nova versão que deturpou, inclusive, o caráter original e cultural deles. Como a sociedade norte-americana era muito fechada no seu egocentrismo ufanista e religioso-ortodoxo, o acesso da TV às crianças e à molecada adolescente não era fácil, pois a vigilância e o controle eram exercidos rigorosamente dentro dos lares, que ao mesmo tempo tentavam manter a cultura de George Washington de filhos gentis, inteligentes, bem educados que só sairiam de casa para defender a pátria.
Como não dava para retirar as crianças de casa, Disney, criou uma turminha que poderia fazer a maior farra, incutir novos valores e o principal: sem sair do lar, pois esta turma da pesada não tinha família. Pois é... é verdade! Você já ouviu falar da mãe do Pato Donald? E do Mickey? E do Pateta? E quem é o pai do mau caráter do Pica-Pau? E do Papa-Léguas? Sem esquecermos de Faísca e Fumaça, Tico e Teco, pois estas duplas eram feitas de irmãos que brigavam como quase todos os irmãos, mas aprontavam juntos e estavam unidos para combater sempre alguém que tentasse mudar as suas escolhas.
No tocante a influência da mídia, em especial, da propaganda, tanto adultos quanto crianças tornam-se público-alvo. Muitos acreditam que Rodrigo Lombardi além de fazer mágicas em O ASTRO, usa havaianas, porque “todo mundo usa”! E lá vamos nós de havaianas para o shopping, para o banco, para o batizado, para o casamento...
Em relação aos pequenos, o assédio, por exemplo, da Barbie, não fica muito atrás.
O jornalista, Flávio Paiva no documentário Criança, a Alma do Negócio, chama atenção quando diz: “ninguém é mãe da Barbie”, ou seja, a boneca que já está uma cinquentona não inspira a maternidade tão necessária na formação de uma menina e a danada da loira ainda faz jogging, é atriz de cinema, vai ao salão, ou melhor, tem um salão próprio para ela e depois vem aquela enxurrada de coisas que só aquela magricela tem e que o pai ou a mãe de qualquer criança será conduzido pelo desejo operado e induzido através da propaganda, a comprar: a casa da Barbie, o carro da Barbie, o pet-shop da Barbie, a bicicleta da Barbie e finalmente, o namorado da Barbie, o Bob.
O assunto é sério e dá muita dor de cabeça aos pais e responsáveis. E mais séria ainda é a postura dos pais e depois, dos órgãos competentes que deveriam observar com mais cuidado este processo de coisificação que o ser humano, mesmo ainda na infância, vem sofrendo. Há propaganda com crianças ligadas a Banco, propaganda de celular, ou então, segurando o cartão de crédito do pai e indo para o ataque às prateleiras que estão, “coincidentemente”, ao alcance delas.
O código de defesa do consumidor não é um livro de biblioteca, é um manual de uso necessário na defesa conscienciosa de nossa vida e dos direitos que temos. No capítulo III que trata Dos Direitos Básicos do Consumidor, no artigo 6º, item IV, está expressamente declarado que deve haver "a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos, desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;" sendo assim, já existe um dispositivo legal que pode amparar e proteger o consumidor de tornar-se uma marionete nas mãos das propagandas e da grande mídia.
A saudade de me sentir humanamente real e ao mesmo tempo, ignorante em minha inocência é tão grande, que até me sinto um extraterrestre para aqueles que nem sequer conseguem ter saudade de algo! Falo por aqueles da minha geração, "de perdidos no espaço", de "star wars", "durango kid" a estes que compõem a geração líquida, em que tudo é fluido, virtual, temporário e perde logo a graça da novidade. Recentemente em Londres, um indivíduo abriu um petshop que aluga cachorros e outros animaizinhos, pois constatou-se que as crianças compravam um bichinho de estimação e em uma semana diziam aos pais que estavam enjoadas dele e isto levou a um aumento de animais nas ruas. A mesma facilidade de se trocar de celular, de um x2, para um c3, c4, c5, galaxi, tablets, iphone 5, agora se estende ao afeto básico de uma criança que não consegue se vincular nem mesmo a um animal.
E a saudade dos amigos de infância em que juntos, subíamos nas mangueiras, quebrávamos o braço, empinávamos pipa, jogávamos peão, bola de gude, ou quando arrebentávamos a vidraça de alguém com a bola de futebol? Tínhamos tão poucos amigos e éramos tão felizes no pouco! Agora temos 1.800 no facebook, e não conhecemos nem 10% deles e ainda achamos que são nossos amigos! Nunca comeram nem uma manga verde com sal ao nosso lado, nem corremos juntos, fugindo de um cachorro louco na rua!
Não tenho saudade das bonecas de pano, até porque não brincava com elas, mas dos carros e caminhões de lata, bem como das bolas de futebol de botão, feitas de miolo de pão. O pão nem miolo tem mais, é só bromato...
E por falar em miolo, quem os tem hoje em dia?
"Compre baton, compre baton, seu filho merece baton!" Parece uma viagem no tempo que tento fazer, mas quem viveu na década de 80 e não se lembra de comerciais na TV como este? E aquele que dizia: “Não esqueça a minha calói”, ou então, “um beijinho por um danoninho”... tudo nos parecia tão inocente, bem como a rainha dos baixinhos com suas mini-saias e suas paquitas, todas loiras e sensuais, cercadas de crianças e que deixaram, como herança brasileira para as décadas de 90 e para este início de século, os chamados filhos órfãos de pais vivos, que são aqueles garotos e garotas que resolveram levar a sério a brincadeira do estica e puxa e se tornaram muito instruídos com as músicas baianas, cantando: Aê-Aê-Aê-Aê, êêêê, ôôôô, ou ainda: "delícia, delícia..." Sem deixarmos de lembrar que em 2010 a música rebolation foi eleita a melhor num certo programa de domingo à tarde.
O processo vai ainda mais ao passado. Desde a época do Sr. Walt Disney, aquele velhinho com cara de bonzinho que resolveu dar uma reviravolta hollywoodiana nos contos de fada, oriundos em sua maioria de cada país do Velho Continente e que receberam uma nova versão que deturpou, inclusive, o caráter original e cultural deles. Como a sociedade norte-americana era muito fechada no seu egocentrismo ufanista e religioso-ortodoxo, o acesso da TV às crianças e à molecada adolescente não era fácil, pois a vigilância e o controle eram exercidos rigorosamente dentro dos lares, que ao mesmo tempo tentavam manter a cultura de George Washington de filhos gentis, inteligentes, bem educados que só sairiam de casa para defender a pátria.
Como não dava para retirar as crianças de casa, Disney, criou uma turminha que poderia fazer a maior farra, incutir novos valores e o principal: sem sair do lar, pois esta turma da pesada não tinha família. Pois é... é verdade! Você já ouviu falar da mãe do Pato Donald? E do Mickey? E do Pateta? E quem é o pai do mau caráter do Pica-Pau? E do Papa-Léguas? Sem esquecermos de Faísca e Fumaça, Tico e Teco, pois estas duplas eram feitas de irmãos que brigavam como quase todos os irmãos, mas aprontavam juntos e estavam unidos para combater sempre alguém que tentasse mudar as suas escolhas.
No tocante a influência da mídia, em especial, da propaganda, tanto adultos quanto crianças tornam-se público-alvo. Muitos acreditam que Rodrigo Lombardi além de fazer mágicas em O ASTRO, usa havaianas, porque “todo mundo usa”! E lá vamos nós de havaianas para o shopping, para o banco, para o batizado, para o casamento...
Em relação aos pequenos, o assédio, por exemplo, da Barbie, não fica muito atrás.
O jornalista, Flávio Paiva no documentário Criança, a Alma do Negócio, chama atenção quando diz: “ninguém é mãe da Barbie”, ou seja, a boneca que já está uma cinquentona não inspira a maternidade tão necessária na formação de uma menina e a danada da loira ainda faz jogging, é atriz de cinema, vai ao salão, ou melhor, tem um salão próprio para ela e depois vem aquela enxurrada de coisas que só aquela magricela tem e que o pai ou a mãe de qualquer criança será conduzido pelo desejo operado e induzido através da propaganda, a comprar: a casa da Barbie, o carro da Barbie, o pet-shop da Barbie, a bicicleta da Barbie e finalmente, o namorado da Barbie, o Bob.
O assunto é sério e dá muita dor de cabeça aos pais e responsáveis. E mais séria ainda é a postura dos pais e depois, dos órgãos competentes que deveriam observar com mais cuidado este processo de coisificação que o ser humano, mesmo ainda na infância, vem sofrendo. Há propaganda com crianças ligadas a Banco, propaganda de celular, ou então, segurando o cartão de crédito do pai e indo para o ataque às prateleiras que estão, “coincidentemente”, ao alcance delas.
O código de defesa do consumidor não é um livro de biblioteca, é um manual de uso necessário na defesa conscienciosa de nossa vida e dos direitos que temos. No capítulo III que trata Dos Direitos Básicos do Consumidor, no artigo 6º, item IV, está expressamente declarado que deve haver "a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos, desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;" sendo assim, já existe um dispositivo legal que pode amparar e proteger o consumidor de tornar-se uma marionete nas mãos das propagandas e da grande mídia.
A saudade de me sentir humanamente real e ao mesmo tempo, ignorante em minha inocência é tão grande, que até me sinto um extraterrestre para aqueles que nem sequer conseguem ter saudade de algo! Falo por aqueles da minha geração, "de perdidos no espaço", de "star wars", "durango kid" a estes que compõem a geração líquida, em que tudo é fluido, virtual, temporário e perde logo a graça da novidade. Recentemente em Londres, um indivíduo abriu um petshop que aluga cachorros e outros animaizinhos, pois constatou-se que as crianças compravam um bichinho de estimação e em uma semana diziam aos pais que estavam enjoadas dele e isto levou a um aumento de animais nas ruas. A mesma facilidade de se trocar de celular, de um x2, para um c3, c4, c5, galaxi, tablets, iphone 5, agora se estende ao afeto básico de uma criança que não consegue se vincular nem mesmo a um animal.
E a saudade dos amigos de infância em que juntos, subíamos nas mangueiras, quebrávamos o braço, empinávamos pipa, jogávamos peão, bola de gude, ou quando arrebentávamos a vidraça de alguém com a bola de futebol? Tínhamos tão poucos amigos e éramos tão felizes no pouco! Agora temos 1.800 no facebook, e não conhecemos nem 10% deles e ainda achamos que são nossos amigos! Nunca comeram nem uma manga verde com sal ao nosso lado, nem corremos juntos, fugindo de um cachorro louco na rua!
Não tenho saudade das bonecas de pano, até porque não brincava com elas, mas dos carros e caminhões de lata, bem como das bolas de futebol de botão, feitas de miolo de pão. O pão nem miolo tem mais, é só bromato...
E por falar em miolo, quem os tem hoje em dia?
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